Review Dungeons and Dragons – Honra entre Rebeldes

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Publicado em: 22 de abril de 2023

Sabe quando você vai ao cinema com uma expectativa e sai de lá completamente surpreso, mas totalmente satisfeito?

Pois é, isso acontece com Dungeons and Dragons – Honra entre Rebeldes, filme da Paramount Pictures lançado nos cinemas em 13 de abril de 2023.

Se você é RPGista raiz, fã hardcore do jogo criado por Gary Gygax e Dave Arneson, já devorou a trindade de livros principais, sabe nomear cada monstro e sua Classe de Desafio apenas por suas imagens e já viveu épicas aventuras dentro desse universo fantástico, deixe-me dizer que o filme vai te deixar com um sorriso de maravilhamento e satisfação sentado na cadeira.

(Não, não é um marco de originalidade, mas é bem-feito, divertido, bem amarrado e o principal – não pretende ser um Senhor dos Anéis, e – por isso – tira um 20 natural em ser um filme divertidíssimo com temática de fantasia medieval.)

Agora, se você NUNCA ouvir falar em “falha crítica”, acha que Tarrasque é um tipo de vinho e tem certeza de que RPG tem a ver com fisioterapia para tratar das desarmonias do corpo, deixe-me tranquilizá-lo que o filme, ainda sim, agrada bastante.

 

Um plot redondinho!

 

O filme de Dungeons and Dragons apresenta uma premissa simples (como toda boa aventura inicial de uma mesa de RPG): Um grupo de amigos aventureiros que precisam se reunir após um tempo (devido a, digamos, PROBLEMAS ocorridos desde sua última aventura) para resolver uma questão pessoal de um deles. Claro que essa resolução pessoal esbarra em uma ameaça de proporções colossais que ameaça as vidas dos habitantes de uma cidade inteira que podem cair vítimas de uma magia de um poderoso mago psicótico, mas originalmente era só uma missão simples.

BEM coisa de RPG, né?

A partir daí, a trupe sai em busca de outros aventureiros para fazer o plano funcionar. Só que os imprevistos não param de surgir, e a cada novo desdobramento do plano, eles vão percebendo que o plano original está LONGE de conseguir ser cumprido.

Em uma das diversas cenas divertidas do filme (O humor está muito bem dosado e aplicado, sem piadas forçadas e sem momentos de riso amarelo), a personagem Doric (uma druida Tyefling interpretada pela meiga Sophia Lillis) pergunta para Edgin (o falastrão bardo de Chris Pine) “E o que exatamente você faz nessa equipe?” ao qual o Bardo responde “Eu sou o planejador. Eu faço planos”. A jovem então retruca, “Mas você já fez o plano. Então, qual sua serventia agora?” e o bardo então emenda “Ora, se o plano falhar, eu faço um novo plano”. A pequena então dispara “Então, você faz planos que falham”.

Hey, isso não é spoiler, essa cena estava no trailer, mas ilustra perfeitamente o desenrolar do filme (e, macacos me mordam, de uma AUTÊNTICA sessão de RPG). O plano original vai se desdobrando em diversos miniplanos (ou, como os jogadores de RPG afirmariam, side quests) conforme uma dificuldade se apresenta, e o grupo vai de uma linha principal de ação até uma ramificação estonteantemente distante para conseguir executar seu plano.

 

O Fan service

 

Como dito no começo, D&D – Honra entre Rebeldes tem um capricho primoroso em seu roteiro justamente por conseguir a façanha de ser um filme com uma temática que, para os leigos em RPG, poderia soar como “uma cópia bem-humorada de Senhor dos Anéis”. Só que eis seu grande trunfo, por não se levar a sério e abraçar esse rótulo, ele consegue manobrar naquela margem cinzenta entre a “paródia” de um filme famosíssimo de fantasia medieval e aquele espaço apertado de filme nichado de adaptação de um material pré-existente e amado por muitos.

Digo isso com tranquilidade, porque assisti esse filme na pré-estreia (abarrotada de Nerds como eu) e fui com minha namorada que NUNCA sequer tinha ouvido falar de D&D (a parte de quando eu falava para ela das sessões que tinha com minha mesa! Saudades, Sveinbjörn das Terras do Norte…) e ela não sentiu que perdeu nenhum detalhe ou ficou “boiando” com nada no filme. Tudo serviu ao roteiro e ao fio condutor da história, entregando um material engraçado, recheado de ação e diversão

Agora, para você – pequeno nerd – temos easter eggs de cair o queixo. Enquanto todos ficam atentos a uma cena do filme, no cantinho da tela você vê dois Monstros da Ferrugem disputando uma parte de armadura ali. Enquanto todos ficam se perguntando por que os personagens estão com medo daquela pedra translucida, você fica se perguntando como eles escaparão do Cubo Gelatinoso. Enquanto todos ficam se perguntando por que o mago não coloca simplesmente o capacete mágico, você sabe que ele tirou uma falha em Attunement.

E ainda nem falei de um cameo de um certo sexteto de jovens MUITO famoso e idolatrado aqui no Brasil, oriundo de um certo desenho homônimo campeão de audiência.

Para quem joga, fica claro alguns acontecimentos em que os personagens “rolaram um 1” e isso adiciona uma camada extra de divertimento para o fã dos jogos. Para ficar num exemplo, existe uma cena em que o plano consiste inteiramente em um objeto ficar em uma certa posição. Mas, o guarda que coloca aquele objeto no lugar é desastrado (ou seja, o jogador tirou 1 no dado na hora de executar o plano) e o objeto cai e fica em outra posição, forçando o grupo a tomar outras medidas.

Esses pequenos momentos são verdadeiras joias para os RPGistas, e são uma construção narrativa interessantíssima para o público em geral.

Para mim, um dos melhores momentos do filme é quando o Paladino Thayano (visivelmente o personagem mais poderoso de todo o elenco) simplesmente “vai embora” antes da missão principal, numa clara referência a quando o mestre coloca um NPC overpowered mas não pode fazer ele participar da quest final, pelo simples motivo que ele sozinho seria capaz de dar cabo do vilão. CLÁSSICO.

 

CONCLUSÃO

 

Em suma, Dungeons and Dragons – honra entre Rebeldes, não promete muita coisa, mas entrega um caminhão. Para quem não joga RPG é um filme leve, divertido, cadenciado, com um elenco afinado e um plot divertidíssimo. Para quem joga, é como acompanhar uma mesa, mas diferentemente de ver os jogadores interpretando, você vê o que eles apenas estariam imaginando. E para todos, é um daqueles filmes que vale a pena assistir mais de uma vez, por seu fato de divertimento altíssimo.

Review por

Ban é publicitário, escritor, desenhista, instrutor de Kung Fu, fã de mangás e Hq´s, e já jogou GURPS primeira edição (sim, Ban é velho). Não entende como 18 golpes de um machado de batalha de 2 mãos desferido por um bárbaro em fúria não mata o goblin saqueador, mas quem é ele para discutir com o mestre, não é mesmo?