Review Ghost of Tsushima

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Publicado em: 24 de maio de 2023

O ano era 2017. Durante a Paris Game Week fomos todos surpreendidos com um teaser de um jogo que, imediatamente, deixou todo mundo colocando lenha na caldeira do trem do hype. Mostrando quase nada, mas instigando a imaginação de todos, o teaser apresentava algumas cenas de planos abertos de cenários lindíssimos. Campos floridos, frondosas florestas de bambu, um vilarejo ao longe, com suas casas e plantações de arroz, um samurai treinando ao entardecer, o vídeo termina com um destacamento de inimigos sendo derrotado por um único homem, que ao final, descobrimos se chamar O FANTASMA!

Não havia um milissegundo sequer de gameplay no vídeo, mas não era necessário. A atmosfera estava toda criada e a expectativa, também. Anunciado pela Sucker Punch – mesma produtora da bem recepcionada franquia “Infamous” – em parceria com a publisher Sony Entertainment, Ghost of Tsushima já morava em nossas cabeças desde o teaser. Mal sabíamos nós, que em 2020 ele moraria também nos nossos corações.

 

HISTÓRIA

 

Lançado como um exclusivo do Playstation 4 em 17 de julho de 2020, Ghost of Tsushima nos coloca na pele de Jin Sakai, um samurai dividido entre manter-se fiel aos antigos costumes e tradições da sua casta, ou ter a coragem de quebrar com esse sistema para fazer o que é  possível para salvar não apenas seu tio, mas também toda sua ilha natal.

Historicamente, o jogo se passa em 1274 durante a primeira invasão mongol ao Japão. O clima é dado logo na introdução do jogo. Revivendo uma batalha na baía da ilha de Tsushima, o jogo deixa claro para o jogador o que os japoneses aprenderam de maneira dolorosa na história real: Eles estavam em desvantagem numérica, eles não estava preparados para o inimigo e eles não conheciam nada das táticas e costumes dos invasores.

Assim, após uma batalha desastrosa – onde o orgulho samurai pôs muita coisa a perder – Jin é dado como morto e seu Tio, o Lorde Shimura, é capturado por Khotun Khan, neto de Gengis Khan. A intenção do invasor com o sequestro é tão simples quanto clara: usar Lorde Sakai para convencer os habitantes da ilha a aceitarem o  “novo governo”.

Então, voltamos nossa atenção para Jin, onde o encontramos num vilarejo humilde perto do campo de batalha e descobrimos que ele foi salvo por Yuna, uma mulher forte que faz o que é preciso para viver (e sobreviver) no Japão Feudal. Ela informa Lorde Sakai que os invasores triunfaram, se instalaram na ilha e mantém seu tio cativo, na esperança dele se tornar um aliado na ocupação.

Jin, então, se prepara para ir salvar seu tio, e – ao estilo samurai – chega aos portões  do castelo bradando suas intenções, chamando Khotun Khan para um duelo. E, só então, quando sofre sua segunda derrota (mais moral do que física), Jin percebe que contra esses inimigos, o código de conduta do samurai não o ajudaria em nada. Pelo contrário, para derrotar um inimigo nunca antes visto, Jin teria que se valer de táticas nunca antes pensadas.

Assim, nosso protagonista fica mais, flexível – por assim dizer – a algumas táticas que Yuna lhe ensina. Atacar furtivamente, pelas sombras, eliminar o inimigo no escuro e no silêncio, usar distrações, armadilhas e até – coisa impensável para um samurai – veneno.

Ainda antes da metade do jogo, fica claro que Jin terá que fazer uma escolha, e a escolha é insuportável. Para ajudar seu tio (e, por extensão, seu povo), tem que renunciar à visão de honra que o código de conduta dos samurais lhe impõe. Para salvar os outros, Jin tem que perder a si mesmo. E essa é a escolha dos heróis, afinal.

 

LINDO EM TODOS OS SENTIDOS

 

Ghost of Tsushima é o jogo que torna irrelevante o recurso de fast travel por um motivo simples. Você NÃO vai querer passar por esse mundo de maneira rápida.

A beleza e riqueza nos detalhes desse mundo aberto é para deixar boquiaberto (trocadilho não intencional) qualquer um que tenha o privilégio de jogar essa obra prima. A equipe da Sucker Punch visitou o Japão duas vezes com o objetivo de garantir que o título fosse o mais culturalmente e historicamente autentico quanto possível, mas o mapa da ilha de Tsushima não é uma reprodução idêntica, e sim uma captura do espirito do lugar.

E que espírito.

Com poucas centenas de metros, você pode deixar uma calma e relaxante paisagem montanhosa sob a neve que cai serena e macia e ir parar em uma onírica floresta de bambus, ou ainda, em um bosque de folhas douradas, cuja atmosfera filtrando o sol te convida a puxar sua flauta e performar uma belíssima canção (sim, eu fazia isso o tempo TODO).

Com tanto capricho no visual, você não quer usar o fast travel. E verdade seja dita, tinha horas que eu nem queria usar o cavalo. Tinha horas que eu nem queria correr, eu apenas caminhava por toda aquela beleza, ouvindo o vento, os riachos e claro…os chamados para as side quests.

E este é – também – um dos grandes pontos deste jogo.

 

HISTÓRIA, POESIA E HABILIDADE

 

As side quests e atividades deste jogo são deliciosas e riquíssimas. Em Contos Míticos, Jin é levado por Yamato – um músico contador de histórias – a reviver uma lenda e, assim, ganhar um item especial (seja uma peça de armadura lendária, uma nova arma ou uma técnica letal com a espada). Nos Santuários Animais, Jin é guiado por uma raposa para honrar certos altares desses enigmáticos seres. Os desafios de arquearia te convocam a testar sua pontaria e os desafios de cortar bambu testam sua rapidez no controle.

Cada item colecionado ao longo do caminho te traz uma surpresa e uma novidade, como os objetos dos invasores, que quando coletados lhe proporcionam conhecer como era a vida e cultura dos mongóis à época, num texto rico e delicioso.

Mas há também os momentos reflexivos de Jin nas termas, onde mais  do que aumentar sua barra de vida, Jin recupera um pouco seu entendimento sobre si e sobre sua jornada. E claro, há um momento mais artístico: A confecção dos Haykus (minha atividade preferida).

Confesso que fiquei surpreso com a proposta de, no meio de um jogo de combate com temática violenta, ser convidado para sentar-se, apreciar a – belíssima – paisagem e compor um poema. O fato desse poema se tornar uma bandana personalizada só torna tudo melhor.

Tudo isso pode ser achado organicamente, ao apenas passear por Tsushima e seguir um pássaro, uma raposa ou apenas o vento. Entende por que o Fast Travel é desnecessário nesse jogo?

 

GAMEPLAY

 

A jogabilidade de Ghost of Tsushima não reinventa a roda, mas é como se a pegasse do formato de pedra e a transformasse em borracha.

Dinâmico, fluido e cheio de alternativas, é possível encarar cada desafio a sua frente de dois modos: A moda samurai, ou a moda Fantasma.

O modo samurai é aberto, franco. O Inimigo é desafiado para o combate, as espadas são desembainhadas e vence o mais habilidoso. Mas, em momentos em que a habilidade não adianta frente ao grande número de inimigos, o modo fantasma se apresenta. Furtivo, silencioso. Os inimigos são mortos na surdina, exterminados um a um, no silêncio e na desonestidade.

Confluindo essas duas facetas, Jin progride no jogo de um jeito mais austero e rígido para um avanço mais fluido, e isso se traduz em todas as formas, desde sua maneira de se vestir, até como avança pelo mundo (escalando muros e castelos, com ajuda de seu gancho) e como luta.

Jin tem 4 “estilos” que ele desenvolve, cada um funcionando perfeitamente contra um tipo de inimigo. O estilo da rocha é muito efetivo contra espadachins; o estilo da água, contra inimigos com escudos; o estilo do vento, contra lanceiros e o estilo da terra, contra inimigos brutos (ou gigantes, para ser mais preciso)

Cada estilo pode ser variado no momento do combate, em um comando simples de 2 botões (segure R2 e aperte X para estilo da rocha, bola para estilo da água, triangulo para estilo do vento e quadrado para estilo da terra), fazendo você se sentir extremamente poderoso ao invadir um forte e enfrentar uma LEGIÃO de inimigos sem se abalar. Mas cuidado, uma escolha equivocada, e sua vida pode ficar bem difícil (para não dizer curta).

A travessia do mundo aberto pode ser feita a pé (andando, correndo, esgueirando-se ou escalado) ou a cavalo, além de Jin contar com seu famigerado gancho, o que lhe permite uma movimentação horizontal no mapa muito mais rápida e eficaz.

O jogo ainda conta com um honestíssimo modo Multiplayer (chamado de Legends), com algumas opções de combate cooperativo (Story mode é um arco de nove nove episódios, desenvolvido para dois jogadores, no qual algumas novas mecânicas do modo são explicadas e o modo Survival requer4 joadores no sistema de defesa de pontos de interesse contra ondas de inimigos cada vez mais difíceis e numerosos).

Feito para o PS4, Ghost of Tsushima brilha mesmo no PS5, onde sua Versão do Diretor fez valer cada pixel empregado nesse belíssimo jogo, maravilhando não apenas os fãs de um jogo de ação excelente, mas também os fãs de temáticas orientais e os fãs de diversão em geral.

 

Review por:


Ban é publicitário, escritor, desenhista, instrutor de Kung Fu, fã de mangás e Hq´s, e já teve um videogame de cada geração (sim, Ban é velho). Até hoje acha que Ghost of Tsushima é o melhor jogo de Assassin´s Creed Japão jamais feito, e chora pela oportunidade que a Ubisoft perdeu.